A repercussão da proposta de reforma tributária entregue ao Congresso ontem pelo governo e uma nova rodada de estresse na relação de China e Estados Unidos refletem no ritmo do mercado brasileiro. Lá fora, índices de Nova York subiam na abertura, apesar de o governo dos EUA exigir o fechamento do consulado da China em Houston, no Texas, agravando a tensão sino-americana.
Internamente, na Bolsa, o destaque é a divulgação do relatório de produção da Petrobras. A companhia deu uma boa pista do que foi o seu segundo trimestre ao informar que a produção de óleo e gás equivalente caiu 3,5% ante o primeiro trimestre, para 2,757 milhões de barris diários (boe/d). O impacto da Covid-19 sobre os preços do petróleo reduziu a resiliência de certas plataformas, que foram hibernadas, impactando a produção. No pré-sal, a empresa paralisou uma plataforma em maio para desinfecção e produziu 1% a menos no trimestre.
No refino, a produção de quase todos os derivados recuou com a queda na demanda. No querosene de aviação (QAV), a queda foi de 81,5% entre trimestres. A produção de gasolina caiu 19,4% e a de óleo diesel, 2,4%. Uma exceção positiva foi o nafta, que teve produção 3,4% maior, sustentado pela maior demanda por parte da Braskem.
Ainda no setor industrial, a Weg, fabricante de motores elétricos e tintas e vernizes, registrou lucro líquido de R$ 514,375 milhões no segundo trimestre do ano, alta de 32,2% sobre o mesmo período do ano passado. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ficou em R$ 732,2 milhões ao final de junho, alta de 36,3% sobre o segundo trimestre de 2019. A margem Ebitda cresceu 1,7 ponto percentual, para 18%. A receita líquida da companhia somou R$ 4,063 bilhões no período, avanço de 23,7% na mesma comparação.
Em mensagem da administração que acompanha o relatório, a Weg diz que a pandemia afetou principalmente as vendas de equipamentos de ciclo curto, sendo que os piores meses foram abril e maio. Já no ciclo longo vê-se resiliência, “dado o extenso processo de planejamento e decisão” envolvidos em projetos desse tipo. A companhia observa melhora gradual ao longo do trimestre na dinâmica dos negócios, mas ainda não pode afirmar que a crise tenha sido superada, em virtude de incertezas e possível segunda onda de contágio global por Covid-19.
Do lado das elétricas, a Neoenergia trouxe um fraco resultado com impacto de menores volumes de energia distribuída, conforme esperado, porém, a inadimplência elevada foi a surpresa negativa, destaca nosso analista Renato Pinto.
A companhia registrou lucro líquido de R$ 432 milhões no segundo trimestre, 18% menor sobre um ano antes. No mesmo período, houve queda de 19% do Ebitda, para R$ 1,1 bilhão.
Segundo a companhia, o recuo de ambos os indicadores refletem os efeitos da pandemia sobre suas operações. Calcula-se que os impactos da crise às distribuidoras e à comercializadora do grupo tenham retirado R$ 292 milhões do Ebitda no trimestre ? efeito parcialmente compensado, porém, pela aplicação do IFRS 15 sobre os ativos de transmissão, que trouxe um ganho de R$ 121 milhões.
Controlada pela espanhola Iberdrola, a Neoenergia tem quatro concessionárias de distribuição: Coelba (BA), Celpe (PE), Cosern (RN) e Elektro (SP). Juntas, essas empresas atendem cerca de 14 milhões de unidades consumidoras. O grupo atua também nas áreas de geração, comercialização e transmissão.
Reforma tributária
Sobre as ações do setor financeiro, um ponto da proposta da reforma tributária que unifica dois impostos federais ? PIS e Cofins ? ganha relevância: a criação da Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS). O projeto levado ontem ao Congresso prevê uma alíquota de 12% sobre produtos e serviços e outra de 5,9% para bancos, planos de saúde e seguradoras.
De acordo com o Ministério da Economia, empresas financeiras terão a cobrança menor mantida porque as empresas não geram ou se apropriam de crédito tributário na cadeia de produção.
Vale mencionar também que, antes de entregar a proposta, o governo retirou a reoneração dos produtos que compõem a cesta básica.
Cenário internacional
A China informou hoje que os EUA exigiram o fechamento de seu consulado em Houston (Texas), numa atitude que foi descrita por Pequim como ultrajante e injustificável, de acordo com nota da Associated Press traduzida pelo Broadcast.
O governo dos Estados Unidos afirmou que a decisão tem o objetivo de proteger a propriedade intelectual americana e as informações privadas de americanos.
“O fechamento unilateral do consulado geral da China em Houston dentro de um curto período de tempo é uma escalada inédita de suas recentes ações contra a China”, disse porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Wang Wenbin, referindo-se a Washington.