As vendas do varejo acima do esperado amparam o bom-humor do investidor no Brasil, mas não tiram totalmente do radar as preocupações quanto ao avanço da pandemia ao redor do mundo. O sentimento de cautela por conta do coronavírus reflete mais fortemente no mercado de câmbio, enquanto na Bolsa as notícias corporativas são destaque mais uma vez e trazem um tom positivo.
O Ibovespa, principal índice acionário da B3, renovou a pontuação máxima logo na primeira hora de pregão, ultrapassando a marca de 99 mil pontos e deixando investidores animados com a possibilidade de retomar a casa dos 100 mil pontos. Porém, a pressão sobre os bancos pode conter a escalada.
Já as empresas ligadas ao consumo interno, principalmente as varejistas, tendem a reagir aos números divulgados mais cedo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com pesquisa mensal, as vendas do comércio varejista subiram 13,9% em maio ante abril, na série com ajuste sazonal. O resultado veio acima do teto do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma alta entre 0,90% e 11,60%, com mediana positiva de 5,90%. Em relação a maio de 2019, sem ajuste sazonal, as vendas do varejo tiveram baixa de 7,2% em maio de 2020.
Do lado das construtoras, após a Even divulgar prévia operacional, hoje o mercado repercute dados da MRV, maior construtora residencial do País, que teve vendas recordes entre abril a junho, mesmo com a quarentena, de acordo com relatório operacional preliminar divulgado há pouco.
A companhia registrou vendas líquidas de R$ 1,813 bilhão no segundo trimestre de 2020, alta de 37,4% em relação ao mesmo período de 2019. A velocidade de vendas (quantidade de unidades vendidas diante do estoque total) chegou a 19,7%, a maior marca desde o fim de 2017. Segundo a MRV, a procura dos clientes continuou em patamares elevados nos últimos meses, apesar da pandemia. Além disso, a companhia tem recorrido a outras formas de reforçar o escoamento da produção de seus canteiros.
De acordo com nossos analistas Raul Grego e Alexia Wiezel, a MRV divulgou resultados operacionais bons, com crescimento robusto em vendas, repasses e geração de caixa. Apesar da melhora nas vendas e retomada dos repasses, a companhia apresentou menor volume de lançamentos e aumento nos distratos frente ao 2T19, o que mostra parte dos impactos negativos da pandemia.
A Cyrela Brazil Realty, por sua vez, informou ontem à noite que a Lavvi Empreendimentos Imobiliários, da qual é acionista, protocolou pedido de registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para realizar sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). Será uma emissão primária e secundária, mas ainda não há detalhamento sobre volume a ser vendido, valores e cronograma para a abertura de capital.
Aéreas
A Câmara dos Deputados aprovou o texto-base da Medida Provisória (925) de socorro ao setor aéreo. A votação foi simbólica, sem contagem de votos, e os parlamentares não chegaram a votar os destaques, pedidos de alteração ao texto. Essa análise poderá sair ainda hoje. Depois da conclusão desta fase, a proposta irá ao Senado.
A proposta determina que as companhias aéreas terão prazo de até 12 meses para devolver aos consumidores o valor das passagens compradas entre 19 de março e 31 de dezembro de 2020 e canceladas em razão do agravamento da pandemia.
Pelo texto do relator, deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-BA), o consumidor terá ainda a opção de receber crédito, ao invés de reembolso, que poderá ser utilizado em até 18 meses, a contar de seu recebimento. Na proposta original do governo, esse prazo era menor, de 12 meses.
Caso o consumidor desista do voo realizado neste período, o passageiro poderá optar pelo reembolso em doze meses, mas sujeito ao pagamento de eventuais penalidades contratuais. Já se a opção for pelo recebimento do crédito, não haverá incidência de qualquer penalidade.
Ainda no setor, a Azul deve chamar atenção após informar aumento de 43,6% na demanda consolidada em junho, medida pelo tráfego de passageiros (RPKs), em relação a maio. A companhia também teve crescimento de 37,1% na oferta, medida pela capacidade (ASKs). Com isso, a taxa de ocupação no mês passado atingiu 75,5%, um aumento de 3,5 pontos porcentuais em relação a maio.
No mercado externo, bolsas nas principais praças também têm um dia de correção. Há pouco, os índices de Nova York apontavam para cima.