Mais um dia de agenda forte e com importante noticiário corporativo. Ambev e Banco do Brasil divulgaram seus números do primeiro trimestre e sinalizaram o impacto da Covid-19 sobre seus negócios. A cervejaria indicou um cenário desfavorável para o segundo trimestre, enquanto o banco seguiu a linha de Bradesco e Itaú com reforço de provisões contra inadimplência.
A Ambev registrou lucro líquido atribuído aos controladores de R$ 1,091 bilhão no primeiro trimestre de 2020, queda de 59% em um ano. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado caiu 17,3%, para R$ 4,23 bilhões, e a receita líquida recuou 0,29%, para R$ 12,6 bilhões. No Brasil, houve queda de 5,5% no volume vendido de cerveja, que recuou a 39 milhões de hectolitros. Os custos de venda e as despesas administrativas, porém, aumentaram.
A queda nas vendas foi atribuída pela companhia a um verão mais ameno e à pandemia de coronavírus. Neste caso, o impacto mais negativo foi em países onde as vendas em bares e restaurantes (o chamado on-trade) têm maior importância, enquanto nos locais onde os supermercados (off-trade) possuem maior peso, houve aumento nos volumes. O Brasil tem vendas mais divididas, mas com maior exposição ao on-trade, segundo a empresa.
Em nossa visão, o resultado da fabricante de bebidas foi bastante negativo. Ainda que esperemos uma reabertura gradual da economia no segundo semestre de 2020, nos parece que a estratégia da companhia para combater a concorrência, como investimento em marcas premium e regionais, não está tendo o efeito desejado
O Banco do Brasil, por sua vez, apresentou lucro líquido de R$ 3,395 bilhões no primeiro trimestre, queda de 20,1% em um ano. O BB seguiu outros grandes bancos e fez um reforço de R$ 2,04 bilhões nas provisões para devedores duvidosos (PDDs), antecipando efeitos da pandemia do novo coronavírus, o que puxou os resultados para baixo. Das novas provisões, foram R$ 1,17 bilhão no segmento pessoa física, R$ 824 milhões para a carteira de empresas e R$ 46 milhões no agronegócio.
Se, por um lado, a pandemia reduziu os lucros, houve aumento na carteira de crédito, que no conceito ampliado chegou a R$ 725,132 bilhões, aumento de 6,5% em relação a dezembro, e de 5,8% em um ano. O impulso veio principalmente das empresas, com a corrida por liquidez na crise. Os empréstimos para esse público cresceram 12,4% ante dezembro e 5,9% em um ano.
Assim como nos pares privados, porém, o reforço nas provisões impactou a rentabilidade, que vinha melhorando com a estratégia do BB de focar em segmentos de melhor margem. O retorno sobre o patrimônio líquido médio no critério mercado, chamado de RSPL pelo banco, caiu a 12,5% no primeiro trimestre ante 17,7% no anterior. No conceito ajustado, o indicador ficou em 10,5% contra 14,7%, respectivamente. A inadimplência acima de 90 dias, de 3,17%, mostrou queda ante os 3,27% vistos em dezembro.
Os investidores também repercutem hoje a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa básica de juros (Selic) de 3,75% para 3,00% ao ano. Em comunicado, a autoridade monetária atualizou seu cenário base apontando a preponderância dos efeitos malignos da epidemia da Covid-19 sobre a economia global.
Em termos gerais, o Copom considera o ambiente externo desafiador, a despeito dos estímulos fiscais e monetários das principais economias, com um movimento de saída de capitais mais intenso do que no passado.