Os últimos dados dos EUA contêm informações ambíguas sobre as condições econômicas do país. No mercado de trabalho, a criação de empregos ficou em apenas 136 mil vagas em setembro, abaixo dos 145 mil esperados, acentuando a percepção de estagnação da economia norte-americana. Além disso, no setor privado, as empresas criaram 135 mil novas vagas no mês passado, em comparação a 157 mil em agosto (dados da ADP). No entanto, a taxa de desemprego marcou o seu menor nível histórico dos últimos 50 anos, com 3,5% de crescimento.
PMI e atividade
A metodologia do PMI permite uma avaliação homogênea e comparativa sobre a atividade econômica global e, segundo os dados referentes a setembro, o processo de desaceleração continua em vigor. Essa observação é ainda mais visível na Europa e agora também nos EUA.
Em setembro, o PMI global recuou de 51,3 para 51,2, segunda desaceleração consecutiva, embora ainda se mantenha acima do valor crítico de 50,0. Analisando por seus componentes, o PMI de serviços teve decréscimo, de 51,8 para 51,6. Na direção oposta, o PMI industrial mostrou crescimento, de 49,5 para 49,7. Ainda assim, o dado abaixo do valor crítico aponta em piora do ambiente manufatureiro global.
Nos EUA, que até então pareciam imunes à desaceleração global, os dados do setor de manufaturas vieram abaixo das expectativas. O índice de atividade do setor industrial americano do Instituto para Gestão da Oferta (ISM) divulgou o segundo mês consecutivo de contração da atividade, o menor ritmo em 10 anos. Já o dado de PMI do setor de serviços divulgado na quinta-feira dia 3 de outubro apontou expansão da atividade, de 50,9 mas a um ritmo bem abaixo do esperado.
O setor de habitação mostrou recuo por 18 meses consecutivos, enquanto a construção comercial parou de crescer. Os investimentos das empresas estão em queda, embora a previsão seja de avanço de 3,5%, frente a 4,2% em 2018.
A queda da indústria norte-americana pode ser atribuída em sua grande maioria à guerra comercial contra a China que agora será seguida de uma imposição de tarifas de 25% sobre importações da União Europeia. Até agora as empresas dos EUA mantinham estoques elevados na tentativa de antecipar uma rodada adicional de aumento de tarifas. Este comportamento pode ter amenizado temporariamente o repasse do impacto das tarifas, porém este tempo parece ter acabado.
Na China, não há contração nos serviços, mas sim na indústria. A China está comprando menos do mundo, o que afetou duramente a indústria exportadora manufatureira alemã e também vários países asiáticos como Japão e Coreia do Sul. O PIB alemão, por exemplo, contraiu 0,1% no 2º trimestre e a sua economia deve entrar em recessão. Dado o peso significativo da Alemanha na zona do euro, esta também caminha para uma estagnação, com queda trimestral de 2,1 no PMI, ante recuo de 0,6 no trimestre anterior. Portanto, as previsões de PIB para 2019 seguem em baixa em boa parte do mundo (Figura 3).
Diante desses dados, os bancos centrais seguem com uma política monetária expansionista na expectativa de deter uma desaceleração econômica que parece cada vez mais inevitável. O discurso do presidente do FED Powell sugere mais um corte nos fed fund na próxima reunião, se unindo à política de quantitative easing e de repo reiniciadas recentemente.